50 Anos de Horror: #12 Ganja & Hess (1973)

Ganja & Hess

1973 - EUA colorido, 110 minutos

Roteiro e direção: Bill Gunn

Elenco: Duane Jones, Marlene Clark, Bill Gunn, Sam Waymon, Leonard Jackson, Mabel King, entre outros e outras.

Doutor Hess, um arqueólogo (Duane Jones), é esfaqueado por seu assistente, Meda (Bill Gunn, diretor e roteirista do filme) com um artefato antigo contaminado e a partir daí, começa a sentir uma sede incontrolável por sangue. À procura de seu desaparecido marido, Ganja (Marlene Clark) acaba por se envolver com Hess numa relação cheia de surpresas. 

Ganja Hess me causa "uma coisa" que demora a passar sempre que o revejo dada a carga de informações nele contidas e a história dos bastidores ajuda a fortalecer a sensação. Primeiro de tudo, é bom que se saiba que este não é um filme de vampiros convencional, na verdade, ele não é convencional em nenhum sentido, o horror aqui é mais embaixo, um cinema classe A e inimitável. O sangue aqui é ressignificado, assim como a própria história dos vampiros. Não há presas (ou pressa, diga-se de passagem) e sonhos são metáforas de vôos que levam ao entendimento e à busca pela ancestralidade ao mesmo tempo em que paira a sombra da crença do opressor. A luz do sol está presente na maioria do tempo, como se para facilitar o nosso entendimento, não perdermos nenhum detalhe e deixar claro que sim, estamos vendo um elenco predominantemente negro com personagens que fogem dos estereótipos raciais trabalhados até então em qualquer filme de terror feito até ali, o que surpreende algumas pessoas até hoje. 

O medo em Ganja & Hess é mais sutil e nem por isso menos aterrorizante, as angústias, vontades e dúvidas trabalhadas em suas quase duas horas de projeção podem passar despercebidas às gentes acostumadas a soluções fáceis, mas, nada nele é fácil ou óbvio e é por isso que ele está na maioria das listas dos melhores filme de terror de todos os tempos, o que é excelente e tudo porque o dramaturgo Bill Gunn, seu diretor e roteirista, fez o que para mim é a obrigação de todo artista: ele ousou e numa época onde as amarras criativas de Hollywood eram bem menos apertadas, aproveitou-se disso e libertou-se dessas correntes não apenas indo contra o sistema, como enganando-o e forçando-o a perceber o seu trabalho, quando, depois de convencer os executivos da empresa a bancar o orçamento e equipamentos necessários, reuniu a equipe, dirigiu-se às locações e filmou o que bem entendeu. 

Terminou premiado em Cannes e solenemente ignorado em sua terra natal, mas, de nada adiantou, a curiosa relação entre um dos casais mais lindos já apresentados numa tela de cinema foi maior do que o descaso do estúdio e do que o próprio tempo, onde a sede interminável por sangue foi utilizada como metáfora para vícios e onde há cinquenta anos personagens discutiam que o fato de um deles, O Dr. Hess (Duane Jones), um profissional muitíssimo bem sucedido, não estava livre das suspeitas policiais em absoluto, ao contrário, naquela situação a cor de sua pele tornava-o o único alvo a ser escolhido, ou Ganja (Marlene Clark), que em nenhum momento deixa que o fato de sua recém viuvez a torne uma mulher fraca e incapaz de tomar rédeas da própria vida.  

São as histórias desses dois, unidas e entrelaçadas, que levam os espectadores e espectadoras a outro nível de sensações, em especial as pessoas negras. Ali reconhecemos partes de nós mesmos e de como a sociedade nos vê, mesmo quando reproduzimos seus "melhores" comportamentos. Filmaço.





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