50 Anos de Horror: #16 A Cripta dos Sonhos (1973) #17 Os Gritos que Aterrorizam (1973)

Ok, se você já leu algum texto meu sobre filmes com esse formato, a essa altura do campeonato acredito que você mais do que já sabe que eu adoro antologias de horror. A-DO-RO. E a essa altura do campeonato você também já deve saber o porquê, mas, digamos que este seja o primeiro texto meu que tem a honra de encontrar os olhos seus, portanto devo a você uma rápida explicação: adoro-as porque, entre outras coisas, assistimos vários filmes em um só, pagando apenas um ingresso.

Uma das antologias de horror mais antigas da história do cinema chama-se Eerie Tales (O Clube dos Suicidas, 1919), dirigida e produzida por Richard Oswald, que adapta em alguns de seus segmentos textos escritos por Robert Louis Stevenson e Edgar Allan Poe e tem participação de grandes nomes do cinema expressionista alemão, como Conrad Veidt (O Homem que Ri), Anita Berber (Doutor Mabuse) e Carl Hoffmann (Fausto). Nele, toda noite após o fechamento de uma livraria, as pinturas d'A Morte, do Demônio e de uma Prostituta criam vida e contam histórias de terror um para o outro no decorrer da noite. Sim, A Morte, o Diabo e uma Quenga, entidades que, juntas ou separadas, testemunham desde sempre a história da humanidade. Depois deste, inúmeros outros de igual formato foram lançados, como o clássico Dead of Night (1945), porém, as antologias da Amicus têm lugar guardado nos corações dos fãs e das fãs do gênero.

Antes de se aventurar completamente pela seara do terror, a produtora britânica fundada pelos americanos Milton Subotsky (1921 - 1991) e Max Rosenberg (1914 - 2004) produziu musicais e até mesmo dois longas metragens do Doutor Who (Doctor Who e A Guerra dos Daleks e Ano 2150: A Invasão da Terra), até que em 1965, com As Profecias do Doutor Terror, iniciaram a produção de antologias que são referências até hoje em estudos sobre o gênero, afinal, não bastasse o charme próprio do terror, os filmes contavam com presenças de astros e estrelas de várias épocas e lugares, desde Peter Cushing, presente no supracitado As Profecias... e em outros filmes da produtora, até Marlene Clark, Michael Gambon, Charles Gray, Ingrid Pitt, Donald Sutherland, Linda Hayden, Calvin Lockhart, Christopher Lee, Britt Ekland, Patrick Magee, Charlotte Rampling, Joan Collins, Vincent Price, Xernona Clayton, Burgess Meredith, Glinys Johns... a lista é imensa e respeitável e olha que estou falando apenas dos atores e das atrizes, porque por trás das câmeras estavam gentes como Freddie Francis, Roy Ward Baker e Robert Bloch para citar apenas alguns. 

A inspiração para os filmes eram muitas, desde roteiros originais a adaptações de livros e hqs, que será o caso dos dois filmes comentados aqui hoje. O primeiro deles, A Cripta dos Sonhos, (The Vault of Horror no original), como o próprio nome indica, é baseado no gibi de terror homônimo da E.C. Comics, que foi lançado entre os anos de 1950 a 1955, nos Estados Unidos. As adaptações ficaram a cargo do próprio Milton Subotski, que tinha na bagagem experiência em séries televisão e soube levar para a tela grande a diversão que esses quadrinhos proporcionavam a seus leitores e leitoras. A produtora inglesa durou até o ano de 1977, com o lançamento de Criaturas que no Tempo Esqueceu, sequência de No Coração da Terra, que chegou ao mercado sob a chancela da American International Pictures porque a sociedade entre Subotski e Rosenberg tinha acabado, e por consequência, a Amicus, assim entrou para o rol das produtoras lendárias de terror, como a Hammer, por exemplo.

A Cripta dos Sonhos

1973, Inglaterra, colorido 91 minutos 

The Vault of Horror

Direção: Roy Ward Baker

Roteiro: Milton Subotski

Elenco: Anna Massey, Terry-Thomas, Glinys Johns, Curd Jurgens, Tom Baker, Denholm Elliot, entre outros e outras

Cinco distintos cavalheiros desconhecidos uns dos outros estão a dividir o mesmo elevador quando percebem que o mesmo se dirigiu ao subsolo, destino que nenhum deles havia escolhido. Ao saírem do transporte, dão de cara com uma mesa posta e cinco cadeiras, ao mesmo tempo em que notam que o elevador, agora fechado, não possui botões em sua parte externa. Convencidos de que alguém da manutenção vai encontrá-los, decidem esperar enquanto degustam bebidas e compartilham seus sonhos entre si, estranhos episódios noturnos recorrentes que lhes tem tirado a paz. No primeiro deles, "Midnight Mess", um invejoso (Daniel Massey) vai à procura da irmã que não vê há tempos (Anna Massey) e após um rápido reencontro familiar, decide ir jantar no restaurante do outro lado da rua, que ele não sabe, serve cardápio incomum.

O segundo, "The Neat Job", Gritchit (Terry-Thomas), um sexagenário bem sucedido, para surpresa de quem o conhece, decide se casar. Eleanor (Glinys Johns), a escolhida, então se vê presa numa relação com um homem que sofre de severo caso de Transtorno Obsessivo Compulsivo, transformando o que deveria ser um belo e feliz lar numa panela de pressão prestes a explodir, ainda que impecavelmente limpa.

O terceiro, "This trick'll kill you", um Ilusionista arrogante em má fase na carreira (Curt Jurgens) testemunha durante viagem à Índia um truque que poderia mudar a sua situação. Ele tenta comprar a ideia, mas, a possuidora (Jasmina Hilton) afirma que aquilo não é um truque e sim, mágica, um poder que está presente há gerações com as mulheres da sua família e não aceita negociá-lo. Obcecado e com a ajuda da esposa (Dawn Addams), o ilusionista toma uma  decisão trágica. 

Na quarta história, "Bargain in Death", dois planos ditos perfeitos pensados por diferentes pessoas (Michael Craig, Edward Judd, Robin Nedwell e Geoffrey Davies) se misturam com resultados inesperados. Um deles consiste em fraudar o seguro, enquanto o outro tem fins científicos. Em ambos, a presença de um cadáver é imprescindível. Mistura de humor pastelão funcional com Burke e Hare e citações à hq que dá nome ao filme e à antologia lançada pela produtora no ano anterior tornam esse segmento inesquecível.

No quinto e último sonho, "Drawn and Quartered" Artista pobretão (Tom Baker) descobre que suas telas estão sendo vendidas, com a cumplicidade de um crítico de arte, pelos mesmos marchands que depreciaram suas obras, as compraram barato e agora as revendem caríssimas. O artista então faz um pacto com o invisível, que eleva o seu dom para outro nível e assim, ele dá início a uma criativa vingança pintada com sangue, mas, como diz o Homem-Aranha "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades". Ao final dos relatos, que são entrecortados com rápidos comentários sobre o que acabaram de ouvir, o elevador volta a funcionar, revelando a última história.

Uma antologia que acerta o alvo, diverte o público e acredite, nos chama a revê-la de tempos em tempos, sempre com resultados agradáveis.

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Os Gritos que Aterrorizam 

1973 - Inglaterra, colorido, 91 minutos

And now the screaming starts!

Direção: Roy Ward Baker

Roteiro: Roger Marshall

Elenco: Stephanie Beacham, Ian Ogilvy, Peter Cushing, Herbert Lom, entre outros e outras.

Diferente da maioria das produções da Amicus, esta aqui não se passa em tempos contemporâneos e sim, no século 18, onde Catherine (Stephanie Beacham), após casar com Charles Fengriffen (Ian Ogilvy) um rico herdeiro, vai morar na suntuosa propriedade da  família no interior da Inglaterra e desde os primeiros dias percebe uma força maligna no local, tendo visões aterrorizantes com uma mão decepada rastejante fantasma e um homem com apenas as órbitas dos olhos e uma marca vermelha em um dos lados da face.

A insistência das visões faz com que ela tente descobrir o que acontece ali, mas, tanto os serviçais quanto o seu marido fingem que nada está acontecendo, deixando a pobre mulher num estado mental tão delicado que exige a presença do Dr. Pope (Peter Cushing) um estudioso da mente numa época em que esse interesse era visto com maus olhos, devido ao foco na ciência, ao invés de no misticismo. Porém, o mal que habita aquela propriedade não acredita em curas, apenas em uma ancestral e incansável vingança que lentamente vai destruindo tudo em seu caminho, num filme de casa assombrada que entrega o que promete e até um pouco mais e o melhor de tudo, não nos chama de idiotas quando sobem os créditos finais. 

Baseado no conto "Fengriffen",  de David Case, o diretor Roy Ward Baker achava o título original "And now the screaming starts! (E agora começam os gritos!)" tolo, Catherine Beacham e Ian Ogilvy só souberam quando o filme foi lançado, pois durante as filmagens  tinha o mesmo nome do texto de Case, já Max Rosenberg quis utilizar "I Have to Scream and I Have No Mouth (Não tenho Boca e Preciso Gritar)" título de um conto de Harlan Ellison publicado em 1967, que ao tomar conhecimento da intenção do produtor, acionou a lei e impediu a utilização. Eu particularmente acho que o título final ajudou um monte de gente a gritar em determinados e merecidos momentos do filme e quem frequenta salas de cinema, sabe o quanto esses gritos nos acalmam em momentos de tensão. Gritos que "desaterrorizam".

SE JOGUEM!!!



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