A Morte do Demônio - A Ascenção (2023)
Evil Dead Rise, EUA, colorido, 96 minutos.
Direção e roteiro: Lee Cronin
Elenco: Alyssa Sutherland, Lilly Sullivan, Morgan Davies, Gabrielle Echols, Nell Fisher, entre outros e outras.
Uma das coisas que me prometi há tempos foi não escrever sobre filmes que não me cativaram e perder tempo procurando palavras para desmerecer o trabalho alheio. Para mim, cultivar esse tipo de polêmica é cansativo, coisa de gente sem muita coisa para fazer, tipo eu, hoje. Então, comecem por receber este ligeiro grão de sinceridade: A Morte do Demônio - A Ascenção, apesar do nome, é bem ladeira abaixo. Ok, nesse momento acho de bom tom explicar que não trabalho com comparações quando assisto remakes ou reboots, pois acredito que todo filme tem alma própria, o que faço é observar se o trabalho apresentado se aproveitou da melhor maneira do histórico herdado.
O filme original de Sam Raimi dispensa apresentações, mas, como todo dia nasce um fã ou uma fã de terror, acho justo fazer um breve resumo da história do filme de 1981, onde "um grupo de amigos de folga da faculdade vai descansar numa cabana no meio do nada antes habitada por um casal de arqueólogos, que, além de várias anotações, deixaram rolos de fitas gravadas no lugar e nelas, explicações bem específicas sobre sua mais recente descoberta, nada menos que o Necronomicon, O Livro dos Mortos. A gravação é tão rica que traz até um encantamento que, se dito em voz alta, liberta os demônios das profundezas em que habitam e eles, uma vez libertos, tocam o terror de com força nos visitantes, com direito a mortes horríveis, desmembramentos e uma atuação maravilhosa de Bruce Campbell". Se você ainda não viu, veja e se puder ver toda a trilogia original, melhor ainda. Voltemos.
Os tempos agora são outros, a cabana na floresta foi trocada por um prédio em Los Angeles prestes a ser demolido e no lugar do grupo de jovens estudantes, uma família formada por Ellie (Alyssa Sutherland), um mãe recém divorciada, Bridget, Danny e Kassi (Gabrielle Echols, Morgan Davies e Nell Fisher, respectivamente), seus três filhos e Beth (Lilly Sullivan), sua irmã recém grávida que foi visitá-los e mantém o habitante de seu ventre em segredo. Além deles, poucos moradores insistem em continuar no lugar, o que por si só é assustador, pois o prédio dá a impressão de que vai desabar a qualquer momento, realmente. A vida de Ellie, tatuadora de profissão, não está fácil, além do divórcio recente de um marido que desapareceu após assinar os papéis, ela ainda não conseguiu um lugar novo para morar e tem que dar conta dos três filhos sozinha, sendo uma delas ainda criança.
Pois é, o que são demônios quando a sua vida já está um inferno? Muita coisa, acredite. Após um terremoto (estamos em Los Angeles, não esqueça), um buraco se abre no chão do estacionamento do edifício e o mesmo se revela uma tumba-cofre protegida por concreto e símbolos religiosos, deixando claro que o que quer que estivesse escondido ali, estava ali por bons motivos, excelentes até, masssss, não nos esqueçamos de que este é um filme de terror e entre várias coisas esquisitas presentes na tal tumba e o que Danny, que foi investigar o lugar, decide levar para casa, apesar de fortemente desaconselhado por Brigget? O Livro dos Mortos, claro e uma vez dentro do apartamento, a cartilha da desgraça é iniciada com o rigor que o tema pede: sangue, algumas míseras gotas que despertam o livro e seus representantes ávidos por rosetar, o problema (porque sabemos, sempre existe um) é que, enquanto eles se divertem, quem está por perto chora e depois morre para então voltar... diferente
A primeira vítima do livro é a mãe, que mesmo depois de possessa, procura defender a família até onde consegue, porém, sabemos os deadites são tinhosos, se não conquistam na marra, conquistam na lábia, mas... Sabemos também que, além dos rios de sangue, mortes horrendas e efeitos charmosos, o que também cativou o público no filme de 1981, suas sequências e série de televisão derivada foi a irreverência, pois tudo era bruto demais para ser apresentado cru, a estratégia deu certo, entre risos nervosos e outros escancarados, testemunhamos a odisseia de horrores propostas habilmente filmadas por um jovem Sam Raimi, um realizador tão inquieto que, mesmo com orçamento bastante limitado (trezentos e cinquenta mil dólares, grana que não paga nem a divulgação de um filme hoje em dia), ao se deparar com a impossibilidade de filmar algumas sequências como as tinha pensado, desenhou e criou um equipamento que permitiu a realização de planos-sequência rentes ao chão, uma novidade utilizada à exaustão em filmes no mundo todo desde então, sejam eles de gênero ou não.
Peripécias com as câmeras não faltam em A Morte do Demônio: A Ascenção, mas, falta-lhe humor e isso o torna um filme de terror genérico que tem sim, partes absolutamente assustadoras, eu mesmo virei a cara várias vezes, mas, filmes não são feitos apenas por partes, o produto final deve formar um todo e o todo aqui é capenga, pois, ao retirar o humor presente na franquia original (coisa que o filme de 2013 dirigido por Fede Alvarez também fez) não se jogou totalmente nas desventuras que poderiam nos ter feito esquecer esse detalhe, preferindo investir em cenas violentas de inegável apuro técnico e sanguinolência, mas, sem alma, tão insossos quanto seus personagens, ainda que amparados por um bom elenco.
Ah, então o filme é ruim? Não, apenas não é memorável e nem dá vontade de rever, o que acho imperdoável, dado o material em mãos, mas, com arrecadação de de quarenta milhões dólares nas bilheterias nos primeiros dias após o lançamento + declarações animadas de Bruce Campbell (ator principal da trilogia original, da série de televisão e amigo de longa data de Sam Raimi, ambos inclusive são produtores executivos deste filme) certamente garantirão longevidade a esta nova iniciativa. Mesmo com todos esses contras e alguns poucos prós, recomendo que assistam. "Vai com Deus!", como diria a minha querida Jéssica Reinaldo.
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