50 Anos de Horror: #1 Torso (1973)

Torso    

(Itália - 1973, Cor, 95 minutos) 

I corpi prezentanno trace di violenza -carnale

Direção: Sérgio Martino

Roteiro: Ernesto Gastaldi e Sergio Martino

Elenco: Suzy Kendall, Tina Aumont, Luc Merenda, John Richardson, Ernesto Colli, Roberto Bisacco, Carla Brait e Angela Covello

Data de Lançamento: 4 de janeiro de 1973 (Itália)


A impressão que tive enquanto assistia Torso é de que ele se parecia com um monte de filmes, porém, ao fim do mesmo a impressão era outra coisa, era certeza: um monte de filme se parece com Torso e digo mais, se este filme não tivesse sido feito, o slasher norte-americano dos anos 1980 seria diferente do que conhecemos. 

Se em 1973 a Itália real vivia um período político e econômico complicado, com sequestros, tiroteios e outras querelas, isso também se refletia no cinema, em alguns casos de maneira mais direta e em outros, como neste, por exemplo, de modo mais discreto, mas está lá, quando um grupo de jovens grita impropérios contra o país enquanto discutem coisas próprias das gentes daquela idade.

Estamos no início da década de 70, mas, a relação do público italiano com cinema pintado em cores de sangue, mesmo quando em preto e branco, já era antiga, embalada por filmes como I Vampiri (1957, de Ricardo Freda), A Máscara do Demônio (1960, Mario Bava), O Demônio (1963, de Brunello Rondi), Um Anjo para Satã (1966, de Camillo Mastrocinque), entre muitos outros, inclusive Seis Mulheres para O Assassino (1964, também de Mario Bava), o giallo, adaptações de livros policiais existentes desde os anos 30 que tinham esse nome por causa da cor amarela de suas capas, gialli são filmes de mistério onde uma pessoa, geralmente uma mulher, é assassinada a golpes de lâmina por mãos vestindo luvas pretas na maioria das vezes mostradas em perspectiva, que transforma a nós, o público, no corpo que mexe aqueles braços, criando uma sensação curiosa que nos afoga por estarmos prestes a matar sadicamente um personagem pelo qual às vezes temos alguma afeição, fora o próprio ato de matar em si.

O nome mais conhecido deste subgênero certamente é Dario Argento, com seu O Pássaro das Plumas de Cristal (1970), porém, de alguns anos para cá, os filmes de Sergio Martino, diretor de Torso, foram sendo redescobertos e muitos dizem que, enquanto Argento é mais conhecido, Martino é mais talentoso. Geólogo de formação, o diretor é neto de Gennaro Righelli, diretor de La Canzone della Amore (1930), o primeiro filme sonoro italiano e sets de cinema não lhe eram estranhos e quando desistiu de “catar pedras” mundo afora, seguiu a trilha do irmão, Luciano, produtor e começou a trabalhar para Alfredo Lombardi no Estúdio Titanus e aos poucos o fã confesso de Vittorio De Sicca, Rosselini e cinema de gênero construiu seu caminho e já tinha em seu currículo outros gialli, como A Cauda do Escorpião (1971) e No Quarto Escuro de Satã (1972) quando Torso estreou no início do ano seguinte, revelando-se um filme que escapa à fórmula de várias maneiras, mesmo que utilizando expedientes similares.

Para começar, Torso é o nome com o qual foi batizado no mercado americano para no ano seguinte ser lançado em sessão dupla com O Massacre da Serra Elétrica (1974, de Tobe Hopper), em drive ins. Não tiro a razão dos exibidores, afinal, em tradução literal, o título original significa “Os Corpos Tem Vestígios de Estupro”. Sem condições, percebe-se, mas, isso não impediu o filme de fazer sucesso na Itália, onde teve bilheteria decente. Tudo começa em Perúgia, onde Daniela Anselmi (Tina Almont), suas amigas Jane (Suzy Kendall), Katia (Angela Covello) e Ursula (Carla Brait) são universitárias e vivem a vida que estudantes levam, sem muita preocupação com muita coisa a não ser viver o momento, tirar boas notas e se divertir em um ambiente que mistura arquitetura clássica e o colorido comum às roupas, carros e adereços da época, quando uma noite um casal é assassinado, sendo um lenço rubro negro a única pista que a polícia possui para caçar o culpado.

Abalada, pois conhecia uma das vítimas, Dani, com o apoio do tio (Carlo Alighiero), convida as amigas para espairecer na casa de campo da família, uma mansão na beira de um penhasco com vista para toda a cidade. A chegada das moças abala parte das estruturas do lugar, atiçando a libido dos velhos e dos novos e elas, acreditando estar seguras, nem imaginam que o assassino as seguiu, firme em seus planos e propósitos. E aqui faço um ligeiro aparte para  tecer comparações com slashers, em particular, na regra universal propagada, nos anos 80, onde males e traumas de fundo sexual geralmente são as motivações dos assassinos, mas e se não for assim aqui? E se este assassino (ou assassina) tiver outras causas ou outros desconfortos agregados a esses? 

Antes de descobrirmos, o roteiro de Ernesto Gastaldi, aliado ao olhar de Martino e seus silêncios que gritam trovões, nos proporcionam um filme sangrento onde as peças vão se encaixando para, às vezes, voltar ao lugar de partida, pois somos guiados pelas lembranças de Dani e como sabemos, a memória pode pregar peças. 

Atenção para a meia hora final, onde acreditamos que nada mais pode acontecer e somos testemunhas de um jogo de gato e rato exasperante onde não podemos fazer nada, a não ser ouvir a nossa própria respiração e torcer pra que, de alguma maneira, tudo acabe bem neste horror, que, igual a muitos de seus pares, faz com que o público corra para conhecer outros filmes do diretor, que, diga-se de passagem, ainda está vivo e trabalhou até 2012, quando se aposentou.

Parabéns, Sergio Martino! Parabéns, Torso!

Ah, este filme foi indicação do amigo Saul Mendez Filho, técnico em Audiovisual (IFBA), Comunicólogo, Mestre em Cultura e Turismo, organizador do festival Cine Horror (Salvador/Bahia), integrante da Aliança Latinoamericana FantLatam.  

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