50 Anos de Horror: #7 The Baby (1973) e Leptirica (1973)

O Bebê

1973 – EUA Cor, 85 minutos

The Baby

Direção: Ted Post

Roteiro: Abe Polsky

Elenco: Anjanette Colmer, Ruth Roman, Suzanne Zenor, Marianna Hill, David Mooney, entre outros e outras.

Ah, a máscara da América, um paraíso contemporâneo que todo santo dia revela a alguém a sua verdadeira cara, um lugar como todos os outros, só que com uma competente equipe de marketing desde a época do Mayflower e é nos lugares mais improváveis de lá que essas máscaras caem, vizinhanças calmas e imaculadas onde se enxerga claramente o ideal do sonho americano, onde muitas dessas paredes escondem histórias que não se contam à mesa ou na frente das crianças, não senhor e senhora! Histórias onde o comportamento humano é desvirtuado sob o competente disfarce da normalidade. Que o diga Ann (Anjanette Comer), assistente social que, traumatizada com a recente morte do marido, vê em um novo caso a possibilidade de seguir em frente e toma para si a tarefa de cuidar da reabilitação física e social de Baby (David Mooney). Isso mesmo, ele não se chama “John”, “Peter”, “Brian” ou tem sobrenome, é simplesmente chamado assim pela mãe, a Sra.Wadworth (Ruth Roman, de Pacto Sinistro) e duas irmãs superprotetoras, Germaine (Marianna Hill, de Zumbis do Mal, filme já comentado neste projeto) e Alba (Susanne Zenor, de Ardil-22). Baby vive num mundo de fraldas, mamadeiras e outros cuidados que se devem aos bebês, o problema é que ele é um homem de vinte e um anos de idade que nunca teve vida social ou frequentou a escola, seu universo se resume aos limites da casa e a uma convivência familiar que a cada minuto se revela menos saudável. Ann percebe que Baby, apesar do comportamento infantil, não sofre de problemas mentais e decide ajuda-lo a desenvolver as próprias capacidades. O envolvimento cada vez maior da assistente social com o caso abala a sua credibilidade no emprego e em casa, onde mora com a sogra Judith (Beatrice Manley), que não raro lhe enxuga as lágrimas enquanto sofre junto com ela. Preocupada com o desinteresse dos familiares de Baby em mudar a situação, as coisas cada vez mais se complicam e descobrimos que debaixo de tanto amor e cuidados existe uma família mais disfuncional do que imaginávamos, com inúmeros abusos sendo infligidos ao jovem, até que ambas as partes decidem fazer o que podem para protegê-lo. Bem dirigido (Ted Post dirigiu, entre outros filmes, A Marca da Forca, com Clint Eastwood), boas sequências de suspense, personagens absolutamente críveis e um final inesperado fazem de The Baby um mergulho em águas quase negras, de tão turvas.


Leptirica (1973)

Leptirica
1973, Iugoslávia, Cor, 63 minutos
Leptirica
Direção: Djordje Kadijevic
Roteiro: Djordje Kadijevic (baseado no conto “Posle devedeset godina”, escrito no século 19 por Milovan Glisic)
Elenco: Mirjana Nikolic, Petar Bozovic, Slobodan “Cica” Perovic, Vasja Stankovic, Toma Kuruzovic, entre outros e outras

Numa pequena vila no interior da antiga Iugoslávia (atual Sérvia) as coisas em sua maioria são como em qualquer lugar desse tipo: verdes pastos, montes e regatos e também igual a qualquer lugar assim, suas gentes são calmas, trabalhadoras, às vezes rudes, tomam um gorozinho pra animar as conversas e claro, gostam de falar sobre as próprias vidas e das dos outros também, afinal, não há muito o que se fazer por ali além de viver e reside aí o problema, pois toda essa paz e harmonia está sendo ameaçada por um vampiro que está matando pessoas, em especial moleiros, rasgando-lhes a garganta, pintando de bordô o branco imaculado do trigo. Mas, nem tudo são desgraças, lá também existe espaço para o amor, em particular, o amor de Strahinja (Petar Bozovic), que se apaixona por Radojka (Mirjana Nikolic), filha de Zivan (Slobodan “Cica” Perovic), próspero fazendeiro local que proíbe a relação, pois muitíssimo pobre o pretendente e no meio de todo esse drama, alguns moradores do local, junto com o pároco, temem que a falta de um moleiro acabe por fazer com que todos e todas acabem tendo que se alimentar de trigo cru e malandros, sabendo das intenções de Petar, convencem-no a ir trabalhar no moinho e ele, movido pelo desatino chamado paixão mais a correspondência da donzela aos seus avanços, aceita. Digo mar nada, apenas repito que não há um mísero dia da minha existência em que o horror não se revele como o um dos gêneros mais ricos do audiovisual e este filme feito para a tv, em específico, prova pela enésima vez que grandes orçamentos e elencos estelares são pastéis de vento quando a criatividade e a condução do que vemos deixam a desejar. Com elenco mínimo e afiado, humor em fartas doses que ainda assim não o transformam numa comédia, Leptirica acerta em sua duração e condução, entregando a nós um dos mais curiosos e instigantes filmes de vampiros já feitos.



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