50 Anos de Horror: #13 O Homem Cobra (1973)


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1973, EUA colorido, 99 minutos

O Homem Cobra

Direção: Bernard L. Kowalski

Roteiro: Daniel C. Striepeke e Hal Dresner

Elenco: Strother martin, Dirk Benedict, Heather Menzies, Richard B. Shull, entre outros e outras

A história da humanidade também é feita de medos. É assim desde o começo, quando decidimos viver em bandos para não sermos presas fáceis de predadores ou tribos inimigas. Os exemplos não param por aí e se formos para a ponta do lápis, o tanto de coisas que criamos e utilizamos para nos defender dos nossos temores individuais e coletivos, talvez vinte e quatro horas não sejam o bastante para anotarmos tudo. Um dos nossos medos mais antigos e gravado em fogo na nossa memória é o medo de animais venenosos, bichos com os quais tivemos de conviver e nos esquivar por milênios, até que remédios e soros fossem desenvolvidos para curar ou diminuir o efeitos das substâncias tóxicas em nossos corpos, o que não impede que centenas de pessoas ainda pereçam anualmente ao redor do globo vítimas desses animais, ou, mais inexplicável ainda, que milhares de gentes tenham apreço e admiração por esses bichos, criando-os em casa e dedicando-lhes extremado carinho e atenção. 

É nesse nicho que se encaixa o Dr. Carl Stoner (Strother Martin), um especialista em serpentes com um conhecimento tão vasto sobre o tema que o mesmo se confunde com filosofia de vida e percebemos que as ideias do bom doutor não são assim, tão equilibradas quanto a ciência exige, que o diga Harry, companheira de vida, leituras e embriaguez do doutor, que acontece de ser uma jiboia e mesmo a universidade onde ele leciona já não tem mais tanta paciência com seus projetos, o que não o impede de seguir em frente, quando pede ao Dr. Daniels (Richard B. Shull), seu superior hierárquico, que ceda um aluno para ser seu assistente, já que o último voltara para a sua cidade natal sem dar muitas explicações. 

À contragosto, Daniels indica David Blake (Dirk Benedict, famoso aqui no Brasil por conta da série de tv Esquadrão Classe A, exibida nos anos 80 no SBT), que se sente honrado, pois conhece o histórico de Stoner. Já no laboratório, um lugar tão afastado da cidade que David acaba indo morar por lá, o jovem é convidado a fazer parte de um experimento secreto, mas, que de acordo com o pesquisador, não oferece perigo a quem se submete e o pupilo, feliz por fazer parte daquilo, aceita sem pensar duas vezes, além do mais, a estadia dele contaria com a companhia da simpática Kristina Stoner (Heather Menzies), filha do cientista. O problema (porque vocês bem sabem, sempre existe um), é que até ali, nós, espectadoras e espectadores, já vimos o bastante nessa história para suspeitar de algumas coisas, que, infelizmente, não serão boas notícias para o jovem graduando, já que os testes aos quais está se submetendo nada mais são do que um aprimoramento genético que vai transformá-lo numa cobra-real, com a vantagem(?) de mantê-lo raciocinando como um humano. 

Sim, é isso mesmo, o Homem Cobra do título é um pobre coitado que, em prol da ciência, submete seu corpo a inoculações que o transformarão numa aberração, enquanto o Dr. Stoner leva a frente as suas ilusões ao mesmo tempo em que a sua casa/laboratório serve como atração para turistas que querem ver o cientista digladiar-se com uma das serpentes mais perigosas do mundo, que não por acaso, também uma cobra-real. 

Se igual a mim, achas que animais venenosos, em especial as cobras, devem viver em um ambiente e você em outro de preferência bem longe, este filme não é para a sua pessoa, eu mesmo não consegui olhar para a tela durante várias sequências, pois todos os animais apresentados são reais, desde as cobras pequenas às imensas que causam sensação de morte à sua simples visão, porém, mesmo com essas dores, saiba que este é um filme digno de cientista louco com tema que atinge muitos e muitas que o assistem, pois nos coloca face a face com um dos nossos maiores medos sem CGI ou efeitos práticos, entregando aos que temem esses animais sincero sentimento de horror.

Irá o jovem David perceber o que está acontecendo e se livrar da horrível sina que o aguarda? Irá o Doutor Stoner ser submetido a uma crise de consciência e parar com suas loucuras? Será que você vai conseguir assistir até o fim um filme recheado de cobras e serpentes de verdade quase rastejando para fora da sua tela? 

Acredite, assim como o filme, todas essas indagações são válidas. Outra coisa deveras interessante que O Homem Cobra traz é a participação de vários nomes de sua equipe em outros filmes de terror que acabam formando uma espiral de dicas para apreciações futuras, como Terrores da Noite (1979), Piranha (1978), A Longa Noite de Terror (1977), Tubarão (1975), O Cão do Diabo (1977), e olha que estou citando apenas os que têm animais como mote, produzidos à exaustão nos anos 1970, portanto, se você curte o tema, essa década vai ser divertidíssima pra você. Por via das dúvidas, comece com esse aqui, pois, acredito que quem sobrevive a este medo sobrevive a qualquer ameaça animal.

O filme de hoje foi indicação de Carlos Primati, crítico membro da Abraccine, tradutor e pesquisador, especializado no gênero fantástico, inclusive a cena brasileira do horror, ficção científica e fantasia. Desenvolve pesquisa para cursos e palestras de cinema fantástico em geral e escreve artigos e ensaios para diversos livros e catálogos de mostras, abordando realizadores como Alfred Hitchcock, George A. Romero, Terry Gilliam, Tim Burton e José Mojica Marins. Em sua única passagem por Recife, em 2015, conheceu o pessoal do coletivo Toca o Terror, entre os quais estava a figura imponente e carismática de Queops Negronski. Na capital pernambucana, ministrou um curso sobre história do horror, exibiu uma raridade do gênero (“Zinda Laash”) e gravou um podcast com o grupo, falando de cinema de horror brasileiro. Em tempos pandêmicos e pós, firmou parceria on-line com Queops no curso “O Cinema Blaxploitation de Horror”, na mostra Crash de Goiânia, em 2020, e em duas edições do curso “Black Is Beautiful: A História do Cinema de Horror Negro”, em 2022 e 2023, pelo MIS-SP, a segunda delas com participação de Tati Regis.


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